azul caixão
Julia Bicalho Mendes
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deixar-te ir
os cabelos intactos
cortados aos pés de uma santinha
o vento fremindo
na expansão aquosa da barra
deixar-te ir
a meta infinita do ser
a palavra boca
dentro
da palavra tempo
deixar-te ir
as pulseiras e os dedos radiônicos
os anéis o toque o tabaco
que enrolei em frente ao mar
deixar-te ir
o sol esbranquiçando a pele
avançando sobre o vidigal
sobre a cor rubra das paisagens esquecidas
deixar-te ir
a confusa lacuna do encontro
a perda de sentidos e a intuição
que invade os primeiros minutos das manhãs
deixar-te ir
vestir o fraque e preparar-se para
o grande incêndio de Nicanor Parra
o desmoronamento das tristes árvores na calçada
os genitais velhos chorando
a inútil inundação individual
deixar-te ir
o fim dos cadernos e dos
poemas grávidos
a ausência espumando pelos rostos
deixar-te ir
a descontinuidade
o sangue ardendo dentro das costelas
a tarde em que me deito
com teu nome
e esqueço
(e me esqueço)
(e invariavelmente/repetidamente termino em mim.)