azul caixão
Julia Bicalho Mendes
OCTAVIO PAZ
MÉXICO (1914-1998)
ESQUECIMENTO
Cerra os teus olhos e às obscuras perde-te
sob a folhagem vermelha das tuas pálpebras.
Funde-te nessas espirais
do som que zumbe e cai
e soa ali, remoto,
até a morada do tímpano,
como uma cascata ensurdecida.
Funde teu ser às obscuras
Mergulha-te em tua pele
E mais, em tuas entranhas;
que te ofusque e cegue
o osso, lívida centelha,
e entre abismos e golfos de treva
abra sua pluma azul o fogo fátuo.
Nessa sombra líquida do sonho
molha tua desnudez;
abandona tua forma, espuma
que não se sabe quem deixou na margem;
perde-te em ti, infinita,
em teu infinito ser,
mar que se perde em outro mar:
esqueça-te y esqueça-me
Nesse esquecimento sem idade nem fundo,
lábios, beijos, amor, tudo renasce:
as estrelas são filhas da noite.
Tradução: Julia Bicalho Mendes
OLVIDO
Cierra los ojos y a oscuras piérdete
bajo el follaje rojo de tus párpados.
Húndete en esas espirales
del sonido que zumba y cae
y suena allá, remoto,
hacia el sitio del tímpano,
como una catarata ensordecida.
Hunde tu ser a oscuras,
anégate en tu piel,
y más, en tus entrañas;
que te deslumbre y ciegue
el hueso, lívida centella,
y entre simas y golfos de tiniebla
abra su azul penacho el fuego fatuo.
En esa sombra líquida del sueño
moja tu desnudez;
abandona tu forma, espuma
que no se sabe quién dejó en la orilla;
piérdete en ti, infinita,
en tu infinito ser,
mar que se pierde en otro mar:
olvídate y olvídame.
En ese olvido sin edad ni fondo,
labios, besos, amor, todo, renace:
las estrellas son hijas de la noche.
(Versão original)
Octavio Paz foi um poeta, ensaísta, tradutor e diplomata mexicano, notabilizado, principalmente, por seu trabalho prático e teórico no campo da poesia moderna ou de vanguarda. Foi agraciado com o Prêmio Nobel de Literatura em 1990.