azul caixão
Julia Bicalho Mendes
NURIT KASZTELAN
aRGENTINA (1982)
A MOENDA
A única coisa que quero
é provocar
um estado de tensão
no qual as coisas se rompam
sem haver ruído.
Funciono como as plantas,
se aspiro demais
me afogo.
No México me contaram
de uma mulher
a medida que moía o milho
seu braço ia desaparecendo.
Sou como essa mulher
moendo a si mesma
me escrevo
e desapareço.
Tradução: Julia Bicalho Mendes
LA MOLIENDA
Lo único que quiero
es provocar
un estado de tensión
en el que las cosas se rompan
y no haya ruido.
Funciono como las plantas,
si aspiro demasiado
me ahogo.
En Méjico me contaron
de una mujer
a medida que molía el maíz,
su brazo iba desapareciendo.
Soy como esa mujer
que se muele a sí misma
me escribo
y desaparezco.
(Versão original)
![nurit4.jpg](https://static.wixstatic.com/media/f5de98_441269e7dbdc41fcb79c0af11638a6fc~mv2.jpg/v1/fill/w_440,h_292,al_c,q_80,usm_0.66_1.00_0.01,enc_avif,quality_auto/nurit4.jpg)
UM VERDE PENSAR
Não me criei no campo.
Não tive um rio para o qual escrever poemas.
Não tive o rio que meu agora ex amor teve
e talvez seja essa a razão
pela qual não estejamos juntos.
Ele sempre teve rio em seus olhos, eu não.
Não sei o que refletem os meus olhos
não sei para onde olhar
onde colocar a perspectiva.
Tampouco sei o que venho buscar
será esse rio que não tive?
Mais abaixo do eu
por debaixo desse eu
vêm imagens de outras pessoas
para me completar os poemas:
um bando de estorninhos,
terras húmidas, esse deserto,
um verde pensar
debaixo de uma sombra verde.
Tradução: Julia Bicalho Mendes
![Captura_de_Tela_2020-10-10_aÌs_18.54.44](https://static.wixstatic.com/media/f5de98_07f4e43f28734facbbb0a597f5afe455~mv2.png/v1/fill/w_217,h_217,al_c,q_85,usm_0.66_1.00_0.01,enc_avif,quality_auto/Captura_de_Tela_2020-10-10_a%C3%8C%C2%80s_18_54_44.png)
UM VERDE PENSAR
No me crié en el campo.
No tuve un río al que escribirle poemas.
No tuve el río que mi ahora ex amor sí tuvo
y tal vez sea esa la razón
por la que no estamos juntos.
Él siempre tuvo río en los ojos, yo no.
No sé qué reflejan mis ojos
no sé hacia dónde mirar
dónde poner la perspectiva.
Tampoco sé qué vengo a buscar
¿será ese río que no tuve?
Más abajo del yo
por debajo de ese yo
vienen imágenes de otros
a completarme los poemas:
una bandada de estorninos,
humedales, ese desierto,
un verde pensar
bajo una sombra verde.
(Versão original)
Nurit Kasztelan é escritora, de Buenos Aires, publicou Movimientos Incorpóreos, Teoremas, Lógica de los accidentes, O amor era um jogo instável y Después. Co-dirige a editora Excursiones e tem uma livraria atípica em sua casa: Librería Mi Casa (www.libreriamicasa.com.ar).