azul caixão
Julia Bicalho Mendes
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tarde
o amor consome
o que está
o que não está
a falta de amor
tarde
o amor consome
dois olhos lambendo os postes de luz acesos
teu corpo girando em direção ao mar
sentar na porta de casa, sem as chaves
tarde
o amor consome
as coisas que inventei sob um céu estrelado
a fumaça atravessando a garganta, lentamente
os ruídos que invadem o quarto
tarde
o amor consome
os insetos que pintam abismos na madrugada
o despreparo das manhãs
imaginar uma pessoa que esquecemos
que não esquecemos
tarde
o amor consome
este estar sozinha sempre
as próteses dentárias rachando
a dor de cabeça crônica
todas as coisas boas
todas as coisas ruins